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Encarando a história da música como uma trama de eventos que se sucedem numa dinâmica própria, é possível identificar em sua topografia obras singulares que se destacam ora por romper com cânones estabelecidos e criar um novo código; ora por se conectar à tradição a fim de reinventá-la ou simplesmente para “preservar a chama”, como dizia Mahler; ora por confluir raízes culturais e avant-garde num sincretismo abrangente que aponta novas direções. E este é justamente o caso de “Música Tronxa”, álbum de estreia do saxofonista pernambucano Henrique Albino.
Músico de sólida formação, com vasto domínio do material musical, portador de uma artisticidade vanguardista dedicada à busca incessante pelo inconvencional e com uma mente fervilhando de ideias, Albino apresenta em seu primeiro disco temas que articulam as raízes musicais pernambucanas à liberdade expressiva do jazz, à complexidade da engenharia polimétrica e às possibilidades melódico-harmônicas da música Pós-Tonal. O resultado é uma obra arrojada, mas não hermética ou acadêmica, que coaduna conflitos métricos, frases atonais, motes seriais e sonoplastias a melodias encantadoras que desvelam paisagens etéreas e improvisos incendiários plenos de risco, individualidade e senso de grupo.
Tudo isto, por sinal, sem comprometer qualquer traço da identidade nordestina. Daí que a música é “tronxa”, com “x”, no melhor “pernambuquês”, como revela “Apofenia”, tema de abertura que faz menção às batidas do maracatu rural da Zona da Mata do estado, ou “Salto Quântico”, faixa na qual podemos vislumbrar o frevo voltando-se para o amanhã.
Acompanhando Albino, um time de jovens e brilhantes músicos que incorporaram suas ideias e musicalidade ao ponto de formarem não um combo, e sim um organismo. Na sanfona, o virtuoso, moderno e peculiar Felipe Costta. No baixo elétrico, Filipe de Lima, o chão firme num espaço sonoro transmutável. E na bateria, o multidirecional, técnico e criativo Silva Barros.
Ao fim e ao cabo, só nos resta dizer que “Música Tronxa” é um disco atemporal e urgente, vértice de linguagens musicais diversas e cheio de uma densa e rara substância artística.
Portanto: boa escuta.
Texto por Angelo Mongiovi e Bruno Vitorino
credits
released April 15, 2021
Gravado em 13 e 14 de janeiro de 2021 por Paulo Umbelino no Fábrica Estúdios (Recife/PE - Brasil).
Mixado por Vinicius Aquino e Henrique Albino.
Masterizado por Junior Evangelista.
Henrique Albino (sax tenor, barítono e flauta)
Felipe Costta (sanfona)
Filipe de Lima (baixo elétrico)
Silva Barros (bateria)
Todas as composições por Henrique Albino
1- Apofenia (9:55)
2- Diafragmas (6:08)
3- Bugando (7:06)
4- Claranã (10:07)
5- Salto Quântico (9:28)
6- Solo Tronxo nº 1 (7:51)
Fotos das sessões de gravação por Eládio Ferreira
Foto da capa por Felipe Schuler
Design por Lucas Emanuel - agência CCQ
Produzido por Henrique Albino, Angelo Mongiovi e Bruno Vitorino
© Boa Vista Jazz Records, 2021
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